segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O MAR MAIS LONGE QUE EU VEJO




Pra ler ao som de Barcarola, de Antonio Sanguinetti


Queria que eles mensurassem as ondas do mar batendo nas pedras nessa linda manhã de primavera... Eles não veriam, eles nada veem, dormem.
A espuma branca que se forma ao bater contra as pedras, à beleza rude e a dor complacente de quem se atira sem remar, contrapor ou se impor, livre.
A imensidão sob meus olhos e meu corpo presente, olhos abertos, cansados, mas abertos, me é estranho que a música se encaixe tanto nas ondas como as ondas nela, sem nem um dia terem sequer ensaiado esse encontro.
Às vezes parece que em marcha rumam para a guerra, um batalhão de ondas mar à fora, mar adentro... O azul se confunde como o do céu que não se fez de todo amanhecido, com isso ainda enganando-se nos tons.
Uns barcos ao fundo, uns pássaros, algumas árvores, ou melhor, daqui vejo a copa das árvores e nada mais, várias luzes que breve se apagarão, casas, casas e mais casas com suas caixas d’águas azuis, seus restos familiares dispostos ao sol e a quem quiser ver.
Não resistiria se soubesse voar, adoraria me jogar agora daqui pra sei lá onde, contudo tendo a garantia de que iria flutuar no ar como aquele barco que vejo embaçado no meio do mar mais longe que eu vejo. Não resistiria se tivesse coragem, também, de começar a gritar. (não quero gritar, nem calar, quero estar onde estou e sentir o que sinto)
Ainda a pouco bati minha última onda contra a rocha fria a beira do meu mar, olho pra trás para ver se mais alguma caminha em minha direção, a direção da pedra, e nada.
Um tempo passou, uma coisa acabou, outras começarão, meu mar terminou.
O ar que respiro a muito não puro hoje esta perfeito pra se saborear junto à brisa da manhã. Não que eu esteja triste, ou queira morrer mais umas mil vezes como quando acordo todo dia...
Saindo do tom auto-apiedado no qual quase me deixo cair, reparo que há qualquer momento pode aparecer por lá, no meu mar, no mar que eu vejo, um enorme elefante, um rinoceronte, um dragão, qualquer coisa insólita aos seus olhos, mas que aos meus seriam pura poesia, e se eu já voasse nessa hora iria de encontro com o novo, com esse inusitado...
Mas como hoje ainda faz frio eu pretendo voltar pra cama, dormir o dia inteiro acordar à noite, me olhar no espelho e fingir que isso não aconteceu que é apenas um conto, uma crônica, um desabafo.
Enquanto esse momento não chega fico aqui contemplando a água, o mar, suas ondas, seu caminhar, seu rebentar, e o desfecho infindo de se bater a todo o momento contra a mesma rocha, no mesmo mar, o mar mais próximo que eu vejo.

2 comentários:

Chris disse...

Meu amigo é mesmo um puta artista
escreve muito bem...saudades amor bjão

Alê Periard disse...

João

Além de um ator maravilhoso, você escreve muito bem!

Amei: "(...) me é estranho que a música se encaixe tanto nas ondas como as ondas nela, sem nem um dia terem sequer ensaiado esse encontro."

Precisamos escrever algo (teatral) juntos! O que acha?

Bjs